segunda-feira, 18 de abril de 2016

5


  4 de Fevereiro de 2016. Outro dia leve em Londres. A Rita veio cá durante uns dias e tive a oportunidade de passar um dia com ela. Sinto que a nossa amizade teve muitos altos e baixos mas de uma coisa tenho a certeza, ela foi das pessoas mais verdadeiras que alguma vez conheci. Sempre admirei a brutalidade da sua personalidade, e digo isto da maneira mais amável porque é exactamente essa característica que me cativa e que admiro muito em qualquer pessoa.
Fomos a Brick Lane, comemos num restaurante mexicano, DF / Mexico, incrível, que agora faço questão de visitar sempre que passo por lá (cheesy beano fries & hibiscus drink são os meus favoritos do menu), como é óbvio não podíamos ir sem passar na loja que vende bagels de nutella a 99p. 

  Nessa mesma noite fomos a um concerto, que fui mesmo à última da hora e foi incrível. Keaton Henson foi um aperto no coração que me fez sentir viva e que me fez relembrar como é sentir-me tão cheia de vida, tranquilidade e agitação ao mesmo tempo. Quando acabou foi só mais um suspiro, um peso que me caiu dos ombros. Poucos momentos me fazem sentir assim. Fico feliz por ter ido e vivido aquele dia porque por mais que me custe admitir, não haverá mais oportunidades de isso acontecer.


(queria inserir aqui um vídeo do concerto mas o tamanho era demasiado grande para o blogger, talvez coloque no youtube e depois deixe um link.)

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

4


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REBEL AGAINST THE RULES
IDEAL IN MY HEAD REALISTIC IN MY EVERYDAY
I NEED YOU TO WAKE ME UP
I NEED YOU TO TELL ME THAT I,
HAVE LOST MY HEAD AND I,
NEED TO GET MY SHIT TOGETHER BEFORE IT'S TOO LATE
NO APOLOGIES JUST SOFT WORDS
NO SUGAR COATING JUST THE TRUTH
IN SOFT WORDS
TRUTH THAT HARMS BUT HEALS
TRUTH THAT MAKES YOU BETTER
MAKES US BETTER

A TOXIC RELATIONSHIP WITH MYSELF
DESTROYED ANY CHANCE OF A RELATIONSHIP WITH YOU
NOW YOU MUST BE MY DREAM
SOMEBODY ELSE MY REALITY
PASSION MAKES ME FEEL
DIZZY,
ANGRY,
EXCITED,
OVERWHELMED,
TOUCHED.
IF THERE'S NO PASSION BETWEEN US I DON'T WANT US ANYMORE
CAN SOMEONE LOVE ME?

I AM HAVING A CHANGE OF HEART ABOUT LIFE
BUT,
UGH!,
WHEN WILL I HAVE A CHANGE OF HEART ABOUT YOU?

I LIKE IT WHEN YOU SLEEP, FOR YOU ARE SO BEAUTIFUL YET SO UNAWARE OF IT.
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(my version)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

3

   Ontem foi um dia estranho. Hoje é um dia de reflexão e nem se quer é domingo.
Apercebi-me que provavelmente estou a tirar o curso errado e que nunca vou conseguir entrar no que quero por falta de notas. Provavelmente o facto de as candidaturas terem sido há um mês atrás também ajuda a minha rejeição por parte das universidades. Apercebi-me que só estou com ansiedade e stress outra vez porque levo as coisas demasiado a sério e porque gosto demasiado das pessoas. E depois tudo corre mal e começo a não gostar delas porque elas não querem saber de mim da mesma maneira que eu quero saber delas. Isto faz-me sentir que voltei ao 9º ano quando eu odiava toda a gente e não queria saber de literalmente nada. Talvez foi por isso que fui tão feliz nesse ano e as consequências dos meus actos vieram todas uns anos depois.
   É tão cliché pensares que és tão diferente dos outros, mesmo conhecendo pessoas tão parecidas contigo, mas sempre acreditei que toda a gente é um pouco, nem que seja mesmo muito pouco, diferente do resto da população. E talvez tenha razão. Quais são as possibilidades de ires a um concerto sozinha porque mais ninguém no teu grupo de amigos e conhecidos gosta do artista em questão? Let's be real, não são muitas. Mas não tem mal, acho que nunca me senti tão livre num espaço tão cheio de gente.
Lembro-me de ir uma vez a um concerto com a Catarina (quando eu ainda era amiga dela, ou ela era minha amiga, porque servia-lhe para qualquer coisa. Depois ela conheceu alguém melhor) e eu me estar a divertir e ela dizer "Wow, também não é assim tão bom. Tem calma". Como é que é suposto nos sentirmos confortáveis num espaço que nos agrada à frente daqueles que escolhemos como nossos amigos?
Eu bem sei que ninguém à minha volta estava a dançar tanto ontem como eu e eu não quero saber. Eu aproveitei o meu tempo no concerto como eu queria. Não tive de me preocupar com nada (talvez só com o facto de que podia vomitar a qualquer momento porque estava mal da barriga).
   Também me apercebi de outra coisa. A única razão pela qual estive quatro anos apaixonada pelo meu ex-namorado foi porque ele partiu-me o coração e isso nunca me tinha acontecido. Quem normalmente partia corações era eu, não eram os outros que se envolviam comigo.
   Espero que desta vez, comece a viver a minha vida de maneira que eu quero.

Someone can only mark themselves as being different from others if they also share some common cultural signs with others.
R. Bocock, 1993, Consumption


(Isto é a coisa mais parva e mais infantil que escrevi em muito tempo, mas perdoem-me que já não escrevia há meses. Tudo vai ficar melhor)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

2

  No dia 26 de Agosto, que foi quando cheguei a Londres, não senti qualquer tipo de mudança. Estava a chover e não tinha comido nada durante horas. A primeira refeição que tive foi pãezinhos de leite com pepitas de chocolate quase às seis da tarde. Uma semana passou e ainda assim senti o mesmo: estou de férias. O sentimento prolongou-se durante muito tempo. Já eu tinha começado a universidade e já tinha começado a trabalhar, provavelmente já tinha recebido o meu primeiro ordenado, que nem foi muito, visto que eram só de 4 dias, e ainda me sentia de férias. Ainda estava a aproveitar todos os minutos do meu dia. Mesmo quando estava a dormir, estava a dormir que nem um bebé. Se alguém, para ser sincera a única pessoa que faria isto seria Leonor, me ligassem ou mandassem mensagem a perguntar se queria fazer algo, a minha resposta seria sempre "Sim". Mesmo que isso significasse gastar dinheiro, aguentar o frio, chegar a casa às sete da manhã. Eu estava sempre pronta para ter uma aventura, ainda agora estou, simplesmente pondero durante mais tempo no que acontece no dia a seguir. Vida de adulta com responsabilidades tem disso. Lembro-me do dia em que eu e a Leonor fomos, ou deva dizer, planeámos ir à festa do Afonso. Antes de mais, devo avisar que a Leonor é conhecida por chegar atrasada a todo o lado, pelo que levei o meu tempo a chegar lá, o que é completamente mentira visto que não consigo chegar atrasada por mais que tente, só acontece acidentalmente em raras ocasiões. Ainda tinha passado umas semanas desde que cheguei a Londres, pelo que ainda não tinha um número inglês ou um número que funcionasse no Reino Unido. Isto complicava muito a minha vida pelo que não conseguia comunicar com ninguém, especialmente durante a noite em Shoreditch, completamente sozinha sem um exacto ponto de encontro. "Encontrámo-nos entre o Pret A Manger e o Tesco". Foi depois de meia hora à espera, em frente ao Tesco, e outros pontos entre os dois locais, quando finalmente consegui apanhar wifi, a Leonor apareceu. Foi uma sorte, eu estava prestes a começar a descer a rua até à estação de Liverpool Street. Foi um grande alívio para ambas, visto que tínhamos noção de que se não nos encontrássemos, não teríamos maneira de saber onde a outra estava. Partimos assim para o pub onde o Afonso ia passar umas músicas. Quando chegámos lá, reencontrámos um amigo de outros tempos com que não falávamos há muito mas que se tinha mudado para Londres há um ano. A vida corria-lhe bem, mas não gostava muito do trabalho. Pagavam-lhe pouco para o trabalho que era, mas acredito que toda a gente sente isso quando começa a trabalhar e é raro encontrar um trabalho que seja fácil, agradável e pague o suficiente para o que é. Decidimos esperar pelo resto das pessoas com que nos íamos encontrar antes de entrarmos. A verdade é que elas demoraram muitos e nós decidimos ir comer qualquer coisa entretanto. Encontrámos uma hamburgueria barata. Os hambúrgueres não eram nada de especial mas as batatas eram deliciosas. Quando voltámos ao pub, faltavam 5 minutos para fechar e o resto do grupo já tinha chegado. Quando o Afonso saiu, decidimos todos ir para uma discoteca hetero porque a entrada era grátis. Para ser sincera, senti-me um pouco deslocada, visto que, apesar de muitos amigos e conhecidos meus terem tendências homossexuais, não são tão extravagantes como os amigos do Afonso. Todo este ambiente era diferente do que estava habituada e nunca me senti tão hetero como naquela noite.
A música era horrível e visto que eu não bebo, não havia assim tanta coisa para se fazer naquele lugar. Tive um momento muito estranho com a Inês, quando ela me pediu para ir à casa de banho com ela, mas rapidamente ela se apercebeu do quão constrangedor todo o acontecimento tinha sido que nunca mais voltou a acontecer algo do género.
Depois de algumas horas voltámos para a casa da Cláudia e do resto do grupo. Nada de especial aconteceu. Para ser sincera, não me senti muito à vontade com eles, como quase nunca me sinto. São pessoas com que não sou compatível. Apesar de o Miguel parecer um amor, nem ele estava a aproveitar tanto, pelo menos ele tinha uma razão válida, o Afonso era o seu ex-namorado, e eles eram tão semelhantes fisicamente. Por volta das cinco da manhã decidimos voltar para casa, mas só chegámos às sete visto que passámos pelo Tesco para comprar comida.
Ao escrever isto apercebo-me que ando a confundir duas noites distintas. Esta foi a aborrecida, a melhor foi quando chegámos às cinco da manhã.
Os eventos foram mais ou menos parecidos. Casa da Cláudia, que foi uma querida e deu-me uma maçã para comer, sair um pouco à procura de um pub e depois voltar para casa da Cláudia.
Mas o melhor veio a seguir, quando eu e a Leonor estávamos a voltar para casa. A verdade é que às cinco da manhã é difícil encontrar transportes que te levem directamente ao teu destino. Pelo que tivemos de andar pelo menos uma hora até à estação de Blackfriars, o que parecia ser muito mais perto do que era, e se calhar era, mas nós perdemo-nos no caminho. Ainda bem que o fizemos, pelo que tivemos tempo de falar sobre tudo. Sobre como a Leonor aproveitou, ou melhor dizendo, não aproveitou o tempo que esteve em Londres o ano passado e como agora tem aproveitado mais, mesmo que só tivesse chegado. A nossa amizade também foi um tópico de conversa e ambas concordámos que temos um lugar especial uma para a outra. Tivemos a oportunidade de admirar a cidade durante a noite, ao passar perto do rio e pela ponte. O rapaz do Subway que iria trabalhar até às cinco da manhã e só bebia café visto que se bebesse outra coisa estaria sempre a ir ao quarto de banho. Quando chegámos a Blackfriars, tivemos de mudar de plataforma três vezes mas conseguimos apanhar o comboio. Foi uma noite que me aqueceu o coração e reforçou a nossa ligação. 
Quem tem uma Leonor na sua vida, tem tudo.
   Eu continuei a trabalhar e a ir para universidade, de vez em quando tendo estas pequenas aventuras, mas o sentimento de que já não estou de férias e as saudades de Portugal vieram em meados de Outubro. Veio tudo de uma vez. Simplesmente acordei um dia e senti-o. De quem tive mais saudades foi da minha mãe e do Delfim. Liguei-lhes assim que tive oportunidade e disse-lhes "Tenho saudades". Claro que eles tinham de mandar piadinhas e de ser uns cromos como são sempre, mas eu sei que também eles estão com vontade de me ver pelo menos por um curto espaço de tempo. É verdade o que dizem, que é quando as pessoas se afastam que as saudades aparecem, que nós nos apercebemos do que tínhamos e dá-mos-lhe valor. Eu sempre dei valor, e a razão pela qual só senti saudades tão tarde, foi porque essas coisas também me sufocavam. Ainda agora acho que sufocariam, eu gosto bastante de estar cá, sozinha. Simplesmente sinto falta do carinho e das lições de vida que me eram oferecidas todos os dias. A nossa relação é muito mais íntima e forte agora, o que me faz muito feliz, e corrobora a minha decisão de sair de casa ainda mais. Para uma relação saudável, por vezes o que é preciso é de um pouco de espaço e liberdade. 
  Já não me sinto de férias mas sinto liberdade, com responsabilidades, mas liberdade de qualquer das maneiras. Londres é a minha casa e a Póvoa de Varzim é um porto de abrigo quando vou de férias.

1

   Numa tarde de Novembro, depois de ter acabado de ler outro livro do Murakami e a ouvir Le mal du Pays, finalmente, consegui criar um espaço para expressar as minhas experiências como um ser humano devia expressar. Não tendo conexões humanas suficientes ou simplesmente falta de confiança nos outros, a escrita fora sempre um abrigo. Embora tivesse deixado esse abrigo por não conseguir realmente viver, ou noutras palavras, viver ao máximo, sentir ao máximo durante uns tempos, e os pensamentos que tinha eram tão vagos mas ao mesmo tão cheios, repetitivos e não podiam fazer parte do papel, apenas da minha mente. Tais pensamentos nunca deviam deixar o seu lugar, a mente.
   Quando vivi na Póvoa de Varzim, eram raros os momentos de inspiração, quase nada parecia ser bom o suficiente ou excitante o suficiente para ser traduzido em palavras. Tudo era aborrecido. Talvez seja por isso que os dias que passo aqui não sejam aborrecidos. Só dias como hoje, que embora sejam necessários, sejam menos vivos. Aqui tudo tem vida. Aqui tudo faz-te sentir a vida.
Uma noite, quando estava a voltar da universidade, juro com tudo que me é mais sagrado que vi um OVNI, ou pelo menos sinais da presença de um. Eram três luzes azuis no céu, que ao primeiro olhar pareciam luzes de um avião, mas quanto mais olhava, mais tinha a certeza que era algo diferente. As luzes simplesmente moviam-se aleatoriamente em movimentos circulares sem qualquer destino, como estivessem a explorar. Sorri por saber que existe qualquer coisa para além daquelas nuvens que tapavam as estrelas à noite. Sorri porque acreditei, e acreditar em algo preenche sempre um pedaço do coração. Ninguém realmente acreditou em mim quando lhes contei, como é óbvio. Provavelmente se me tivessem dito a mim "Vi três luzes azuis no céu, são extraterrestres" eu também não acreditaria. Mas a verdade é que no momento eu senti a presença deles, tal como eles sentiram a minha. Se um dia eu desaparecer, foram eles que me levaram. Eles sabem onde eu moro.
   Há sempre qualquer coisa que acontece em Londres que não acontece em outro lado. Há um sentimento, uma sensação, um extra je-ne-sais-quoi que Londres possui que mais lugar nenhum possui. E não o digo de maneira a negar todos os outros je-ne-sais-quoi que os outros lugares possuem, cada um tem o seu, o de Londres enche-me o coração e aquece-me como nenhum lugar ou nenhum outro ser humano aqueceu. Aqui sinto-me em casa.
  Hoje a minha colega de casa chorou, eu ouvi, mas eu não perguntei o que se passa, o que é que estava de errado. Não o fiz por não querer saber, talvez um pouco, mas porque às vezes as pessoas não sabem o porquê de se sentirem como se sentem. Por vezes o melhor é deixar estar. Outra razão, estou demasiado cansada de tentar ajudar quem não quer ajuda. Há pessoas que simplesmente não querem melhorar, estarem bem ou até encontrar felicidade. Alguns estão tão em baixo, na miséria e na merda, como os acolhedores Portugueses dizem, que não importa o que fizeres, eles não vão ficar melhor. Não há nada que possas fazer, por isso porquê gastar a energia? No fim do dia, de um modo ou de outro, não te vais sentir melhor. Ser um adulto é exaustivo e complicado, todos os dias queres a tua mãe de volta para tratar da tua vida, mas a verdade é que ela não está lá. Ela não tem pode vir abraçar e dizer que vai tudo correr bem e ao mesmo tempo que te sentes assim, provavelmente os teus amigos também se sentem assim. Afinal, todos nós somos adultos, uns mais que os outros, e finalmente nos apercebemos que nós próprios somos a nossa prioridade número um. Às vezes temos compaixão e tentámos ajudar o próximo mas acaba por ser difícil quando ajudar o próximo torna-se um incómodo e uma dor de cabeça. Voltando à minha colega de quarto, ela é essa dor de cabeça. Ela é essa pessoa que gosta de ser tóxica, negativa e está sempre a pronunciar as palavras "quero morrer". Há dias que eu penso que esse dia chegou, o dia em que fico em casa à espera que ela volte mas ela nunca passa pela porta. Há dias que sinto no meu coração que nunca mais a vou ver com vida, apesar de ela já não aparentar tem muita vida em si. Pelos vistos ela está a pensar em desistir da universidade, ela não mo disse, mas toda a gente o suspeita, visto que ela anda a perguntar o que aconteceria ao empréstimo que ela pediu se desistisse. Na minha opinião, ela devia fazê-lo. Talvez sou egoísta e cruel, mas ninguém consegue aguentar mais vê-la neste estado. Toda a gente quer protegê-la mas nós também nos queremos proteger a nós próprios. É difícil conviver com alguém que não quer viver. Podemos não nos aperceber, mas essa ideia de tristeza consegue infiltrar-se na nossa cabeça bem mais facilmente do que pensamos. A minha sorte é aceitar a morte de braços abertos. Quando ela chegar, chegou. Não desejo morrer agora, mas não temo o dia que acontecer. Tal como o estimado namorado da minha mãe escreveu no meu postal de natal "Respiro por isso existo com a única certeza, vou deixar de existir".